Um Ferro enferrujado num país envergonhado

por Joana de Mello Medeiros

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                                               Não será uma vergonha que os fanáticos sejam zelosos e que os sábios se desmazelem? Cito de memória. Mas tenho quase a certeza que a frase é de Voltaire. De Voltaire recordo como se fosse hoje um pensamento que o meu falecido marido citava com muita frequência: “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-la”. Talvez por influência da minha educação de cariz anglo-saxónico (Stanford 1945-1949) utilizo mais a vertente “dialogar” e muito menos a de “discutir”. Desde muito nova que na casa paterna aprendi a fazer a “autópsia” das palavras porque todas elas são universos de interpretações. Não sei, nem compreendo, qual a motivação moral que levou o presidente da Assembleia da República a admoestar o deputado André Ventura quando este no pleno uso da palavra empregou o vocábulo “vergonha”. É provável que Ferro Rodrigues “condicionado” pelos espartilhos políticos impostos por uma já longa carreira partidária, estrangulado por uma sucessão de quotidianos influenciadores das mil variantes que condicionam o Poder, nunca tenha tido conhecimento da existência em França dum dos maiores filósofos que influenciou e moldou uma contínua e imparável evolução do conceito de Liberdade impregnando-o do cerceamento da “discussão” e dando asas à dialogadora fruição de novas Liberdades. De Ruwen Ogien que nos deixou muito cedo aconselho a quem tem que “aggiornar-se” na vida pública a debruçar-se sobre as suas obras onde com o bisturi da sua pródiga inteligência dissecou uma nova Liberdade crismada “Liberdade de Ofender” exposta num seu livro de 2007.

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Livros que aconselho Ferro Rodrigues a ler

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Ruwen Ogien - L'e corps et l'argent - Google Images - Refª BO1,204,203,200_201912152201

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                                    Ruwen Ogier falecido a quatro de maio de dois mil e dezassete foi, a par de filósofo, escritor, pedagogo e conferencista, director do “Centro Nacional de França para a Pesquisa Científica” cargo que grandemente lhe facilitou o conhecimento das várias componentes do Homem a par da sua formação académica em Antropologia Social. A sua teoria relativa à “Liberdade de Ofender” (livro acima aconselhado) não pode ser entendida e ainda menos interpretada numa óptica limitadamente chucra, no âmbito de estéreis discussões por dá cá aquela palha, mas como um instrumento para abrir janelas mentais tão emperradas por ilógicos preconceitos que cerceiam a evolução e, duma certa maneira, o acesso a uma possível felicidade. Terá sido André Ventura incorrecto, ofensivo, besta, estúpido, ordinário, labrego ao proferir “vergonha”? Quem nunca ouviu uma mãe, com a mais santa das intenções, aconselhar um filho tímido com dificuldades de aprendizagem na escola: “não tenhas vergonha” quando não perceberes alguma coisa pede ao professor para te explicar que é para isso que ele lá está. Ou em embalamentos de amor quando a namorada deliciada com o primeiro beijo roubado dispara sorrindo com amalandrada voz. “és um sem-vergonha é o que tu és…”. Ou duas comadres falando da vizinha do andar de baixo que não se porta lá muito bem com o marido: “sabe o que ela é? sabe? É uma safada que não tem um pingo de vergonha na cara”.

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Manuel Pinho – FOTO: Google Images – Refª 201912152309 – www.paginaglobal.blogspot.com – Refª 201707

                    Tivesse André Ventura proferido “vergonha” num convento de freiras não teria a mínima razão porque o dia a dia das religiosas era preenchido com virtude, caridade e oração. Aí teria Ferro Rodrigues o pleníssimo direito a formular uma justíssima e ácida repreensão porque Ventura teria sido infeliz no pensamento bolsado. Mas no fait divers em curso Ferro Rodrigues esqueceu o nó górdio da questão. A Assembleia da República não é um convento de freiras, puras, virginais, impolutas. A Assembleia da República tem-se ininterrupta e continuamente degradado aos olhos dos portugueses. Será que Ferro Rodrigues não achou uma vergonha quando um deputado dum governo socialista (governo do seu partido onde sempre batalhou e fez carreira…) o único argumento que lhe pareceu plausível foi simular um par de cornos com dois dedos indicadores?

Ou Ferro Rodrigues não “viu” vergonha quando o seu camarada socialista Ricardo Rodrigues vice-presidente do grupo parlamentar do PS  descaradamente declarou ter “tomado posse” dos gravadores dos jornalistas Maria Henrique Espada e Fernando Esteves metendo-os ao bolso talvez porque a expressão “tomar posse”, contra a vontade dos legítimos proprietários, seja mais doce, mais soft, mais “digerível” do que a definição verdadeira e usual plasmada no verbo “roubar”?

Ou não se agoniou com uma náusea vomitante quando soube do escândalo das “viagens-fantasma” uma vigarice feita por trinta deputados, TRINTA, que empochavam o dinheiro destinado a “trabalho político” gastando-o em benefício próprio gastando à tripa forra o que o povo trabalhador pagou em impostos.

Ou achou normal quando a deputada Emília Cerqueira marcou fraudulentamente a presença do colega José Silvano que estava a milhas do seu local de trabalho que é o hemiciclo agora sob a sua presidência. Não achou uma “VERGONHA” uma falcatrua desta estirpe que culminou (é preciso ter lata…) com a desculpa esfarrapada de que marcou ipsis verbissem querer”. Quanto a mim o pior é os (in)dignos deputados pensarem que somos todos parvos, assim como uns débeis mentais que engolem todas as patranhas que os pais da pátria nos impingem.

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José Socrates – FOTO: www.cmjornal.pt – Google Images – Refª 201912160833

          Sim, rapaziada fina da Comunicação Social, podem filmar-me à vontade com este belo fatinho da melhor alpaca que há no mercado, fatinho por medida e não dessas lojas berunchas que fiz na melhor alfaiataria dos States e custou uma pipa de massa daqueles muitos milhões emprestados por aquele meu amigo do Grupo Lena sem juros nem recibos assinados porque quem tem amigos destes nunca irá a julgamento porque posso contratar os melhores advogados que de recurso em recurso só me poderão tentar prender daqui a trinta anos depois de já ter morrido com uma congestão por ter abusado da lagosta e empanturrado com os melhores e mais famosos vinhos franceses. E, olé, que se faz tarde e ainda vou ter que indrominar o dótôr juiz qu’é cá um rosado compincha que me saiu melhor que a encomenda.

                    É grave, incompreensível, preocupante e extremamente curioso que o actual presidente da AR não tenha ficado indisposto quando o seu kamarada falso engenheiro Sócrates foi preso ao desembarcar no Aeroporto de Lisboa acusado pela Procuradoria-Geral da República de trinta e um crimes: três de corrupção passiva, dezasseis de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e mais  três de fraude fiscal qualificada especificando que o arguido acumulou na Suíça  VINTE  E  QUATRO  MILHÕES  DE  EUROS  com origem nos grupos Lena, Espírito Santo e Vale de Lobo.  Caramba, Ferro Rodrigues, são indícios criminosos a mais para ficar cego, surdo e mudo a olhar para o lado e a empurrar com a barriga. Não lhe cheirou a “vergonha”?!?

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Impressão digital – FOTO: Google Images  -Refª 201912160822

                        Mas há mais. Muito mais. É mesmo um nunca mais acabar. Ainda se lembra, senhor presidente, de quando depois do escândalo da dupla “Emília & Silvano” com o deputado a milhas e a deputada a marcar uma falsa presença foi alvitrada a instalação dum sistema electrónico para que o controlo das presenças fosse por um método biométrico (que reconhece o olhos e as impressões digitais) inviolável, seguro, rápido, prático. E, melhor ainda, já em uso diário com grande sucesso em muitos departamentos do Estado. De imediato os dignos pais da pátria (que mais lhe valeria ser orfã…) barafustaram per omne fas ac nefas (por fas e por nefas – em Latim tem mais pinta…) porque, como diziam, a sua honra (pausa para gargalharem…) estava a ser posta em dúvida. Carago, como dizem no Puôôôrto, então os aparelhos são bons em vários departamentos do Estado e são ofensivos para Suas Imperiais Majestades do Largo de S.Bento !!!!!!!! Haja “vergonha na cara” kamarada Ferro Rodrigues.

E se pensamos que o livre arbítrio de Sua Excelência Excelentíssima foi um tiro no pé quando  CRITICOU  André Ventura e  NADA  DISSE  quando, apenas alguns minutos depois, a Senhora Doutora Mariana Mortágua (doutorada pela conceituada londrina e privada School of Oriental and African Studies não por uma qualquer desconhecida faculdade do Reino da Piolheira Invejosa…) proferiu a mesma ofensiva palavra (“Vergonha”) talvez, quiçá, quem sabe, porque os votos do deputado do Chega por ser de Direita valem uns insignificantes mil e os da deputada da Extrema-Esquerda devem valer alguns milhões. Dois pesos duas medidas. O Livre arbítrio de Ferro, para mal deste nosso pobre (em todos os sentidos) país deve estar enferrujado e a necessitar de cuidados médicos urgentes.

Assuncao-Esteves - Retrato em pose formal

Assunção Esteves – FOTO: Google Images -Refª 201912142158

                  Assunção Esteves que precedeu Ferro Rodrigues no cargo foi cem por cento exemplar não só na isenção partidária como sempre conduziu os trabalhos (com um rosto bem mais estético e simpático que o do carrancudo Ferro) bem como na exibição da elevada cultura que possui embora em raras vezes tenha sido forçada pelas circunstâncias a chamar a atenção de alguma deputada ou deputado que num descontrolado entusiasmo passou a fronteira da boa educação. O que sempre fez com luvas de pelica, sotto voce, sem ofender ou menosprezar quem a infracção praticava. Injustamente apedrejada nas Redes “Suciais” por uma turba ígnara, reles, maldizente e supinamente ignorante quando numa entrevista a Rita Ferro (filha do presidente da AR nos tempos que correm) empregou a palavra “inconseguimento” que até serviu para comediantes de três ao vintém lançassem no Youtube rábulas de rasteiro mau gosto e humorismo abaixo de cão. E, no entanto, vejam lá, Assunção Esteves estava certa ou porque conhecia o vocábulo aprendido numa infância e adolescência transmontanas ou porque engenhosamente ofereceu à Língua Portuguesa um neologismo facilmente explicável.

Se na realidade “inconseguimento” não se encontra em nenhum dicionário ou prontuário temos que recordar Camilo Castelo Branco (um Mestre hoje pouco venerado) que em S.Miguel de Seide todas as tardes ia até às tabernas para ouvir o falar dos almocreves para aprender palavras que totalmente desconhecia. Ora algo um pouco esquecida é a Lei da Paridade Semântica que está na base do “Inconseguimento”. Vejamos. Atentemos. Aprendamos. Para a acção de cumprir (um dever, uma obrigação, um acto legal, um contrato, etc) dispomos do substantivo masculino “cumprimento” com que vulgarmente também associamos a um simples aperto de mão.

Já para o pensamento inverso (não cumprir, errar, falhar) recorremos ao termo “incumprimento”. Logo quod erat demonstrandum, a charmosa antiga saudosa presidente é credora duma pedagogia linguística que lhe devemos agradecer. E não alarvemente criticar. Pena que seja agora uma “has been” (como os politólogos ingleses classificam quem já não é alguém na vida política) quando ainda tanto teria para nos dar.

Telhados de vidro - Google Images - Refª 2019152247

Telhados de vidro – FOTO: Google Images – Refª 2019152247

                        Conhecesse e praticasse Ferro Rodrigues o sábio silêncio de Conrart e evitaria na vida exibir bocas foleiras que o desprestigiam manchando um fim de carreira que se aproxima que, com uma resposta certeira e pronta, André Ventura lhe deu, não com palavras que leva-as o vento, mas sim com um grafismo urbano, uma verdadeira arma de arremesso, mesmo defronte do “Palácio dos Discursos a Metro” que o Zé Povo paga com língua de palmo com impostos, diretos e indiretos, taxas, taxinhas e tudo o mais a que o Centeno consiga deitar a mão para nos lixar a paciência. Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras…

VERGONHA - PAINEL

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                        Cartazes do “CHEGA” para gaudio dos lisboetas e desprestígio do Parlamento que temos e obrigados pagamos. Resultado da triste advertência a Ventura: Sempre votei no PS porque in illo tempore conheci o Salgado Zenha (um idealista honesto, dedicado, impecável) numas férias no Luso e até joguei ténis com a mulher dele. E durante o PREC admirei a luta do Mário Soares (corajoso, acutilante, exemplar) em defesa da Liberdade. Mas neste camaleónico PS da Gerinçonça (“Agência de Tachos para Boys e Girls”) que tem as contas aparentemente certas enquanto estrangula e condena o Serviço Nacional de Saúde a uma criminosa degradação, nas próximas eleições o meu voto irá para o André Ventura que os tem no sítio e fala em Português de lei e não na Novilíngua em que “mentira” se mascarou de “inverdade”. Embrulha, Ferro Rodrigues, e manda para a província…

================   Ser ou não Ser essa é a questão   ===============

Forçados por inesperados motivos (internamentos e falecimentos de quatro reformados muito idosos que foram peças-chave na vida da “Tribuna do Diabo”) que nos obrigaram a uma paragem retomamos hoje a luta a que nos propusemos desde a primeira hora, batalhar por uma pátria mais justa e mais respeitada onde a manipulação política, a corrupção impune e a mentira usada como arma de arremesso não sejam mais o quotidiano a que nos condenaram, retomamos a edição sempre norteados pelo respeito por todos os portugueses de todas as condições sociais combatendo para que todos nós sejamos iguais e não, como a realidade tem comprovado, um país em que uns poucos são mais iguais entre si desprezando muitos que consideram arraia miúda que podem roubar à vontade.

No fundo a questão é, e desculpem-nos a palavra, ser ou não ser patriota…

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Com o Natal já ao virar da esquina, dia em que toda a família se junta para estreitar laços de amor, lastimamos que graças ao Centeno das Cativações que, generoso como é seu timbre, vai dar aos reformados alguns (poucos) cêntimos de aumentos pelo na Consoada não vamos, como sempre foi costume, poder comer os tradicionais sonhos porque graças a ele só há pesadelos…

Richard Lencastre

Publisher

 

 

 

 

 

One thought on “Um Ferro enferrujado num país envergonhado

  1. Cristina Coutinho December 22, 2019 / 1:23 pm

    Recebi. Bem visto. Belo regresso.

    A sábado, 21 de dez de 2019, 16:17, TRIBUNA DO DIABO escreveu:

    > tribunadodiabo posted: “por Joana de Mello Medeiros Ferro Rodrigues – > FOTO: http://www.plataformamedia.com – Google Images – Ref 201912152027 > Não será uma vergonha que os > fanáticos sejam zelosos e que os sábios se desmazelem? Cito de mem” >

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