Rever o passado é mergulhar numa rapsódia de memórias nascidas de momentos-chave que nos marcaram para sempre. Momentos bons. Momentos maus. Momentos assim-assim, nem carne nem peixe. Democracias dum lado. Ditaduras do outro. Destas a revolução russa de 1917 que colocou um fim à monarquia Romanov assentou a sua acção transformadora duma Rússia rural, atrasada e injusta nos dois princípios de acção sintetizados por Lenine que davam prioridade absoluta à electrificação e ao poder do partido dos sovietes. A ditadura comunista, aliás como todas as ditaduras, gerou situações boas de braço dado com situações más, nalguns casos péssimas. Estender a electricidade a todo o território permitiu uma industrialização acelerada que, em poucas décadas, permitiu ao povo usufruir de bens que, do automóvel aos utensílios domésticos colocou os russos a par dos habitantes de países do resto da Europa. No entanto, para se ter conseguido atingir este grau de conforto, muitas lágrimas choraram milhões de mortos pela tragédia que foram os longos anos duma das maiores fomes que ceifaram milhões de inocentes vítimas. Como diz o povo na sua congénita sabedoria “não há bela sem senão”.
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Se o regime soviético se excedeu em crueldade os nazis sob o comando dum criminoso louco com paranoia agravada, Adolfo Hitler, não ficaram atrás com os seus seis milhões de judeus assassinados nos fornos crematórios do amaldiçoado Campo de Concentração de Auschwitz. Se os primeiros actuaram por motivos essencialmente políticos os nazis “justificavam” a bestialidade das suas acções sob o argumento de estarem a proteger a pureza da sua raça ariana. No entanto…
No entanto, em paralelo com sangrentos milhares de assassinatos diários, recuperaram o valor da moeda que praticamente nem valia o valor do papel que o dinheiro era impresso. Tal permitiu estancar o caos e restabelecer uma Economia dinâmica e robusta que deu ao marco um elevado valor nas trocas comerciais.
Ao mesmo tempo o Nazismo lançou um modelo de automóvel de preço acessível à classe trabalhadora (Volkswagen. o Carro do Povo) bem como em 1933 “A Força pela Alegria” (Kraft durch Freude) uma organização estatal que oferecia a todos os trabalhadores alemães férias quer em verdejantes campos de repouso quer em cruzeiros marítimos na sua frota de paquetes desta entidade estatal que, na época, foi considerada a maior operadora de viagens do Mundo.
Tudo na vida tem um fim.
A União Soviética que parecia de pedra e cal acabou por falecer sem honra nem glória no dia 26 de Dezembro de 1991 tendo o presidente Mikhail Gorbachev apresentado a sua demissão ao mesmo tempo que o império comunista se esfarelava por um conjunto de novos estados saídos das várias repúblicas da era de Stalin.
Adolfo Hitler acoitado no bunker de Berlim ao pressentir uma inadiável derrota e com os soldados do Exército Soviético cada vez mais perto do seu esconderijo decidiu suicidar-se não só pela situação em que se encontrava, mas mais por um relatório dos Serviços Secretos que informava ser intenção de Estaline de o colocar numa jaula e passeá-lo por toda a Europa quando a vitória final tivesse sido alcançada.
Sem princípio nem fim o Mundo não para e em cada volta que dá modifica a vida de todos quantos nele vivem. O passado foi o que foi. Brilhante para uns. Opaco para outros. Mas duma certa maneira não andaremos longe da verdade se a afirmarmos que um progresso colectivo é inquestionável: na maior parte de planeta (já com raras excepções) as ditaduras desapareceram e as democracias nasceram como flores amparadas por chuvas regeneradoras. Olhemos para o espelho mágico da nossa vida comum. A geração nascida depois do 25 de Abril não tem a mínima ideia de como era a vida dos seus pais e avós.
De dedo espetado como todos os ditadores Salazar manteve uma ditadura jesuítica-rural-míope-tacanha e desumana que controlava o quotidiano de todos os portugueses. Se, num imperioso exercício mental, nos dermos ao trabalho de comparar o Portugal do 25 de Abril com o País Salazarento constataremos que os alicerces de base do Estado Novo se baseiam num conjunto de princípios para dominar a sociedade (e por arrastamento a Nação) tais como a exaltação de que o líder está sempre certo nas suas tomadas de decisão, a limitação de toda a actividade política restringida a um único partido (a União Nacional) que glorificava o Chefe organizando manifestações “populares” com milhares de pessoas trazidas dos arredores para o Terreiro do Paço, uma brutal repressão exercida por uma polícia política (PIDE) com estruturas operacionais montadas por técnicos alemães da Gestapo, a criação da Mocidade Portuguesa (de inscrição obrigatória entre os sete e os catorze anos) para “formatar” a juventude dentro dos parâmetros da doutrina patriótico-nacionalista da cartilha oficial do regime, uma rígida Censura a todos os meios de comunicação social (Imprensa, Rádio, Televisão) castrando toda e qualquer forma de livre Pensamento
Um simples beijo em público dum casal de namorados era punido por lei com multas pesadas e, por vezes, até com prisão. Esse simples acto de amor era legalmente classificado como “atentado ao pudor e aos bons costumes”. Uma perseguição sistemática era mantida contra os homossexuais e lésbicas considerados pelo Salazarismo como “degenerados ou débeis mentais”.
Tudo visto e respigado é lícito concluirmos que, quer no país quer no Mundo, as poucas ditaduras ainda existentes têm a vida contada uma vez que país a país, continente a continente as democracias estão cada vez mais robustas e a implantação duma União Europeia foi uma poderosa alavanca para se cimentar uma Liberdade onde cada ser humano viva sem grilhetas de qualquer natureza ou ordem.
Felizmente podemos Sonhar o Futuro…